Sentada naquela sala, ouvindo a música suave para relaxamento do rádio velho que estava no aparador ao meu lado, desabafei para a mulher loira à minha frente.
— Mas eu não sei o que fazer! Os pensamentos vêm, e eu simplesmente abraço eles e deixo que me dominem.
— Alguém te falou algo de concreto sobre o que você estava pensando ou você viu aquilo acontecer?
Neguei com a cabeça.
— O que uma pessoa que não tem os óculos vermelhos da ansiedade, cobrindo os olhos, pensaria? — perguntou ela com seu tom amoroso.
— Ela não daria importância? — respondi após pensar muito. Odiava essas perguntas, eu nunca conseguia pensar em uma resposta.
Eu recebia milhões de pensamentos diários, no entanto, quando eu precisava deles, não apareciam. E esse era um dos momentos em que isso acontecia.
— Ela poderia pensar: “Eles não mandam em mim, sou eu que mando em mim. Então vou ignorar, vou deixar para lá. Não existem provas de que isso vai acontecer, então não deixarei que me afetem.”
Concordei com a resposta dela. Essa era diferença entre alguém “normal” e eu.
— Como se sente ao saber isso?
Como eu me sentia ao saber como alguém “normal” pensava? Sinceramente, me sentia pior do que antes. Parecia ser tão simples e fácil! Por que eu não conseguia? Entretanto, não é essa a resposta que ela esperava.
— Não me sinto muito bem — murmurei, envergonhada.
— Todos têm o seu limite, e você respeitará o seu, porém você tem a responsabilidade de se sentir bem. Poucas pessoas têm esse dom que eu vejo em você. Laura, você sabe exatamente o que causa o seu problema! Consegue vê-lo chegando e o identifica na mesma hora. Mas cabe a você deixá-lo ficar ou mandá-lo embora.
Mordi meu lábio inferior como uma forma de apaziguar a inquietação que se instalou em mim.
Ela tinha razão!
— Você é capaz, não vejo um problema de atraso, e pelas coisas que me conta, vejo muita coerência. Mas não pode se vitimizar com seus próprios pensamentos.
— Eu sei. — Senti minha garganta travar pelo choro que reprimi.
Saí daquela sessão de terapia exausta! Algumas vezes isso acontecia, eu ficava muito cansada mentalmente e até confusa durante o dia.
Minha psicóloga era uma mulher calma e muito simpática, fazia de tudo para me deixar à vontade. Contudo, era muito confiante e segura de si, e demonstrava isso não apenas pelo trabalho, mas pela maneira de olhar e andar. Quando olho para ela, vejo que estou muito longe de ter alguma segurança ou confiança.
Se eu pudesse ter uma capa de invisibilidade, com certeza a usaria sempre na tentativa de não ser vista. Aquela sensação de incapacidade estava ali, sempre presente, desde que me entendo por gente. Como ignorá-la?
Realmente, eu sentia que ela mandava em mim e não o contrário. Meus pensamentos me controlaram a vida toda, abraço eles como se fossem velhos amigos e não solto mais. Tenho a consciência de que não será de uma hora para a outra que vou mudar. Porém, surge aquele outro pensamento intruso:
Será que vou conseguir ignorá-los um dia?
Nesse momento, qual caminho escolher? Ignorar ou abraçar?
Crônica de Regiane Silva.
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