A Pianista, de Machado de Assis

9 de fevereiro de 2025 - Regiane Silva

Leitor de livro digital em uma mesa; ao lado, uma caneca e um prato com bolachas.

Conto: A Pianista;

Autor: Machado de Assis;

Publicado em 1866, no Jornal das Famílias;

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Gosto muito do lado romântico de Machado de Assis. Tanto que Helena é meu livro favorito até o momento. Apesar de A Pianista ser um conto romântico e com uma história simples, carrega o peso de uma crítica social: a prática patriarcal do matrimônio estabelecido por arranjo familiar.

É uma história curta e de profundidade devido à escrita de Machado, com o final tendo sua “moral da história”: a liberdade de escolha por parte dos filhos.

O conto “A pianista” foi publicado originalmente no Jornal das Famílias, em 1866, sob a assinatura de “J. J.”, um dos pseudônimos de Machado de Assis no periódico.

A história nos apresentada é sobre Malvina e Tomás, dois jovens que se apaixonam, mas que tem seu amor proibido devido ao pai de Tomás, Tibério. Malvina é uma jovem que trabalha como pianista para ajudar a mãe, visto que o pai havia falecido. As duas são mulheres pobres e simples. Já a família de Tibério é abastada, uma das mais importantes do Rio de Janeiro.

Malvina trabalha na casa de Tomás como professora de piano para a sua irmã mais nova, Elisa.

Malvina ensinava piano a Elisa. Ali, como nas outras casas, era estimada e respeitada. Havia já três meses que contava a filha de Tibério Valença entre as suas discípulas e já a família Valença prestava-lhe um culto de simpatia e afeição.

Machado tece com delicadeza o crescimento do amor entre Malvina e Tomás.

Assistia às lições de piano o filho de Tibério Valença. Da conversa ao namoro, do namoro ao amor decidido não mediou muito tempo. Um dia Tomás levantou-se da cama com a convicção de que amava Malvina.

Tibério é um homem que dá muito valor ao dinheiro e à origem familiar, causando seu desgosto ao ver o filho apaixonado por Malvina.

Mas o amor tem o grande inconveniente de não guardar a discrição necessária para que os estranhos não percebam. Quando dois olhares andam a falar entre si, todo o mundo fica aniquilado para os olhos que os desferem; parece-lhes que têm o direito e a necessidade de viverem de si e por si.

Tibério despede a moça e diz ao filho que, se ele quiser namorar Malvina, terá de esquecer que tem um pai, pois ele não concorda com essa união. Tomás, temendo desagradar e perder o amor do pai, aceita se afastar de Malvina.

Ambos sofrem com esse distanciamento. No entanto, com medo do filho cair em “tentação”, Tibério resolve mandar Tomás para a Bahia, onde ele ficaria afastado da moça pobre, podendo esquecê-la.

Tomás resolveu ir despedir-se de Malvina. Seus esforços, porém, foram inúteis. Em casa sempre lhe diziam que ela tinha saído, e as janelas constantemente fechadas pareciam as portas do túmulo do amor dos dois.

Passaram-se alguns meses, e Tomás não aguentava mais ficar longe de casa e de Malvina. Ao saber que sua irmã se casaria, resolveu aparecer de última hora no Rio, sem avisar ao pai, que nunca lhe enviara uma carta autorizando seu comparecimento no casamento de Elisa. Assim que chegou ao Rio, foi direto à casa da amada.

O encontro foi como devia ser o de dois corações que se amam e que tornam a ver-se depois de longa ausência. Pouco disseram, na santa efusão das almas, que falavam em silêncio e se comunicavam por esses meios simpáticos e secretos do amor.

Tomás saiu da casa de Malvina decidido a resolver aquela questão. Encontrou-se com o pai e disse que se casaria com Malvina. Ao perceber que o pai se desagradava do casamento e não lhe ajudaria financeiramente (embora Tomás não se importasse com aquele dinheiro), ficou magoado e desanimado, mas continuou firme em sua decisão. Passado um tempo, casou com Malvina.

Tomás e Malvina viviam no gozo da mais deliciosa felicidade. Unidos, depois de tanto tropeço e hesitação, entraram na estância da bem-aventurança conjugal coroados de mirto e de rosas. Eram moços e ardentes; amavam-se no mesmo grau; tinham chorado saudades e ausências. (…) Todas as luas de mel se parecem. A diferença está na duração. Dizem que a lua de mel não pode ser perpétua, e para desmentir este ponto não tenho o direito da experiência. (…) A lua de mel de Tomás e Malvina tinha certo caráter de perpetuidade.

Logo, Tibério adoeceu. Ficou acamado por muito tempo. Tomás o visitava sempre, sem nunca levar a esposa, que não era bem-vinda na casa do pai. Até que um dia Malvina pediu para visitar o sogro e prestar serviços de enfermeira, ajudando com as tarefas da casa. Tibério aceitou a presença da nora e ficou feliz pela ajuda. Algum tempo depois, melhorou da enfermidade.

Embora tenha ficado grato pela ajuda de Malvina, Tibério continuou com os sentimentos de desprezo pela posição social dela.

No fundo do enfermo agradecido havia o homem calculista, o pai interesseiro, que olhava tudo pelo prisma estreito e falso do interesse e do cálculo, e a quem parecia que não se podia fazer uma boa ação sem laivos de intenções menos confessáveis.

Para ter a certeza de que estava certo, Tibério visita a casa do filho sem avisar, encontrando apenas a nora em casa. Observando a casa simples, os móveis modestos e a serenidade de Malvina, percebeu que naquele lar havia felicidade e amor verdadeiro.

Efetivamente, pensava ele, aqui há alguma coisa especial, alguma força sobre-humana que sustenta estas almas. Será isto o amor?

Tibério resolve fazer uma grande festa em sua casa quando Elisa e o marido o visitam. E é nesse dia que nota a sua crueldade para com o filho e a nora. Decide então ir até a casa deles para convidá-los, colocando de lado seus sentimentos a respeito da posição social de Malvina.

Uma espécie de remorso fez-lhe doer a consciência. A nobre moça, a quem ele tratara tão desabridamente, o filho, para quem ele fora um pai tão cruel, tinham cuidado com verdadeiro carinho o mesmo homem de quem receberam a ofensa e o desagrado. (…) Este ato de Tibério Valença veio a tempo de reparar o mal e assegurar a paz futura dos seus velhos anos. A conduta generosa e honrada de Tomás e de Malvina valeram esta reparação. Isto prova que a natureza pode comover a natureza, e que uma boa ação tem a faculdade muitas vezes de destruir o preconceito e restabelecer a verdade do dever.

E temos um lindo final feliz para a história dessa família.

Machado de Assis, com este conto, cutucou a moralidade de uma época em que era comum casamentos arranjados com o foco no status das famílias (o modelo matrimonial burguês). Se eu fizesse parte de uma família rica, só poderia me casar com um rapaz de outra família rica (como Tibério queria para seus filhos e conseguiu para Elisa). Se eu fosse branca, só poderia me casar com outro branco. Assim era aquela época. E Machado corajosamente deu uma boa alfinetada nisso.

A Pianista é um conto muito mais profundo do que apenas uma história bonita de amor.

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Foto Regiane Silva Regiane Silva

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