A cada passo que Roberta dava, suas pernas tremiam. Estava na metade do caminho, mas a sensação era de que a distância entre ela e seu destino só aumentava. Suas mãos suavam e seu coração acelerava mais a cada segundo. A vontade era de voltar para casa e se esconder do mundo. Sua casa, seu refúgio, o único lugar que sua mente se sentia em segurança.
Repetia mentalmente cada palavra que tinha a dizer e pensava nas inúmeras perguntas que poderiam lhe fazer.
Passou a mão pelos cabelos, os fios estavam no lugar. Fazer uma trança embutida foi uma boa opção, já que a deixava com um ar sério, mas, ao mesmo tempo, não a envelhecia.
Olhou para a vitrine de uma loja, pela qual passava, e deu mais uma conferida em sua roupa. Estava bem apresentável, uma blusa azul-claro com detalhes de renda branca na gola e nas mangas, e uma calça escura. Voltou a andar e olhou para os pés, seus tênis estavam limpos, porém eles a incomodaram. Escolher um tênis para uma entrevista de emprego não era uma boa opção.
“Por que não coloquei as sapatilhas pretas?”
Não seria uma boa ideia também, tênis era o único sapato que não machucava seus pés.
Já dava para ver o escritório da empresa, o nervosismo aumentou. Respirou fundo e repetiu os motivos de fazer isso.
“Foi a Jéssica que me arrumou essa entrevista, devo isso a ela, uma vez que estou há dois meses procurando trabalho. Eu preciso de um emprego para ter uma independência financeira e finalmente sair da casa dos meus pais. Não que seja ruim morar com eles, mas já tenho 25 anos e quero viver minha vida sem ter de ficar explicando-me sobre tudo a alguém”.
Eram ótimos motivos para não voltar correndo para casa. Respirou fundo novamente ao parar em frente ao interfone do escritório.
***
Suas mãos não paravam quietas, na tentativa de aquietá-las uma agarrou a outra, elas estavam suadas e geladas, informando-lhe a necessidade de se acalmar. Aquela sala fria devido ao ar-condicionado também não ajudava muito.
O homem sentado à sua frente analisava minuciosamente seu currículo. Não tinha muita coisa para ver. Roberta não tinha faculdade, apenas uns cursinhos técnicos que fez durante a época de escola. Já a lista de empregos anteriores era um pouco grande. Trabalhou em quatro empregos em cinco anos. Estava torcendo para que esse novo trabalho durasse pelo menos um pouco mais que os outros.
Tentou não ficar encarando o homem enquanto ele lia o currículo, no entanto, era difícil não fazer isso. A expectativa e o medo de ele fazer uma pergunta que ela não soubesse responder era muito grande.
“Deixa de ser besta, Roberta!” – uma voz falou em sua cabeça. – “Tudo o que ele perguntar, você vai saber responder. São sobre você as perguntas. Respira fundo, vai, três vezes.”
Concentrou-se no ar saindo e entrando pelo seu nariz, aquilo a fez desligar a voz da ansiedade que a fazia tremer inteira. Como queria que essa voz que a acalmava ficasse presente o tempo todo!
— Jéssica me falou muito de você. — O homem baixo de cabelos grisalhos e pele morena quebrou o silêncio perturbador daquela sala. — Estamos precisando de alguém responsável. O trabalho não é difícil, mas é importante agilidade e organização.
Passou novamente os olhos pela folha que segurava e a fitou com certo interesse, fazendo a moça enfiar as unhas na palma da mão de nervoso.
— Você não tem ensino superior e isso é algo importante para a empresa. Por que acredita estar qualificada para esta vaga?
Roberta sentiu uma gota de suor escorrer por suas costas. A tão temida pergunta havia sido feita.
“Por que acredito estar qualificada?”
Na verdade, não se sentia qualificada, apenas precisava do emprego. Ainda não havia encontrado sua paixão na vida, apenas queria um trabalho que permitisse pagar seu custo de vida.
É claro que não poderia dizer isso, pensou tantas vezes na resposta certa. Não era no que acreditava, no entanto, o emprego dependia disso.
— Apesar de não ter o curso superior da área, sou uma pessoa que aprende rápido. Isso poderá ser confirmado em meus empregos anteriores. A empresa não gastará muito tempo ao me ensinar, e como alguém extremamente atenta, presto atenção em todos os detalhes e sei quanto isso faz a diferença.
Não era mentira, sempre fora elogiada por isso. Porém, não se sentia qualificada para nada, nem para a vida.
***
As palavras ainda ecoavam em sua mente.
“Você pode começar na segunda-feira às 7h30?”
É claro que ela poderia!
Enquanto voltava para casa observando com admiração as flores que a primavera trouxera, ela imaginou qual seria a reação dos pais ao contar que sairia de casa assim que passasse o tempo de teste e fosse efetivada na empresa.
Sua mãe não ficaria contente, contudo, no final, aceitaria. O problema era seu pai, ele não ficaria animado e não a apoiaria. Sorriu, achando graça só de imaginar as centenas de pedras que ele colocaria em seu caminho para impedi-la de procurar um apartamento.
Não foi fácil tomar essa decisão, contudo, se sentia leve e em paz para caminhar com as próprias pernas. Ela faria de tudo para que esse emprego desse certo e, principalmente, para conseguir ficar nele por um bom tempo.
Talvez por ter um compromisso, como o aluguel, seja um grande incentivo para não desistir e pedir demissão. Era o momento de se agarrar ao orgulho e seguir com seus planos, como a mulher forte e corajosa que quis sempre ser.
Apesar de a sensação de se esconder do mundo ainda falar alto em sua cabeça, estava decidida a se arriscar ou nunca conseguiria enfrentar seus demônios internos.
Conto de Regiane Silva
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