“Da mesma forma como as pessoas que têm alguma dificuldade para andar necessitam de algum suporte, como uma bengala, ao deparar-se com uma situação difícil, o ser humano procura se firmar em algo ou alguém para conseguir superar a fase complicada. Assim como o bastão, essas muletas psicológicas amparam quem não consegue seguir a vida com as próprias pernas.”

(Trecho da matéria “‘Muletas psicológicas’ podem ser sinal de que algo vai mal”, do
Correio Braziliense)

Ler havia se tornado uma muleta para mim. Os dias em que a ansiedade batia à porta, paralisando-me e me impedindo de me manter no presente, eu mergulhava na leitura, pois ela me ajudava a desligar todas as vozes internas. Criar cenários catastróficos sempre foi automático, e a leitura me ajudava a tirar o foco disso.

No entanto, ler vários livros não significa que eu realmente os leio. Quando os uso como válvula de escape, transfiro minha ansiedade para outro foco, ou seja: a leitura. Vou explicar melhor o que acontece comigo.

Se estou num dia ansioso, preciso me ocupar, então resolvo criar conteúdo para a internet. Sou leitora, então faço conteúdos sobre livros. Mas, para isso, preciso lê-los. Então, começo a ler com ansiedade, afinal, tenho que terminar a leitura para criar o conteúdo. E assim se inicia um ciclo: preciso ler para criar. A leitura se torna uma obrigação, perco a mão e leio sem parar, praticamente não absorvendo muito do que li. Não memorizo trechos, muito menos falas, mal me lembro do nome dos personagens, e nem me pergunte muito sobre a história, porque terei um apagão e me lembrarei bem pouco, pois meu foco era apenas terminar.

Fiz isso ao longo de todos esses anos. Li cinco, seis livros ao mês. E muitos deles gostaria de ter lido com mais calma, presença, absorvendo o conteúdo e viajando pelas histórias sem pressa; encarando-os como o que eles são: livros.

Já tem um tempo que não atualizo meu canal, porque se eu voltar a criar, voltaria a ler com ansiedade, e estou numa fase ansiosa devido a mudanças que terei na minha vida em breve. Outra coisa que me trava nas leituras é o fato de trabalhar lendo. Sou revisora de textos e também faço leitura crítica. Então, se tenho trabalho naquela semana, fico cansada para fazer minhas leituras. Apesar disso, ainda me cobro por “não ler”, gerando mais ansiedade.

Não é fácil perder o controle da própria mente. A minha dita cada passo que dou, deixando-me no piloto automático, obrigando-me a ser de um jeito que não sou. É triste e muito cansativo. Se você conhece alguém que tem ansiedade, dê um abraço nessa pessoa.

Em maio, iniciei o processo de ler lentamente, aproveitando o livro. Li apenas dois, e fiquei satisfeita, pois estive presente na leitura. Em junho, li três, porém dois deles eram livros que já estavam pela metade, e o terceiro era bem pequeno, uma novela. Atualmente, estou lendo Anna Kariênina, um clássico calhamaço que terminarei apenas em dezembro, devido ao ritmo que o tenho lido. E tudo bem, não estou com pressa.

Há muitos livros que quero ler. Eles me aguardam na estante, pacientemente esperando sua hora. Resolvi criar uma rotina de leitura para me ajudar a ler de modo saudável e ainda conseguir ler mais de um livro por vez, já que Anna Kariênina vai ficar em processo de leitura por um bom tempo. Ele é um pouco mais cansativo e com muitos personagens, então escolhi ler de dois a três capítulos por dia – são bem curtinhos –, mas tem vezes que leio no máximo duas páginas. O outro livro que tenho lido em paralelo é O homem mais feliz do mundo: a bela vida de um sobrevivente de Auschwitz. É um livro mais pesado, que conta em detalhes sobre a sobrevivência de Eddie nos campos de concentração nazista. Leio um capítulo por dia; dependendo de como estou, metade dele apenas. E tudo bem.

Nesse ritmo, pode ser que lerei um livro por mês, talvez nem isso. E está tudo bem. Também parei de acompanhar criadores de conteúdos desse mesmo nicho. São tantos gatilhos que me causam vê-los lerem dezenas de livros; a maioria quero ler também. Quando vejo seus conteúdos, só consigo pensar que o tempo está passando e eu não estou lendo. Amo ver fotos de livros, mas não acompanho mais a lista de leitura mensal das pessoas.

Não quero parar com o canal nem com meu blog. Então, trarei apenas aqueles livros que me tocaram de alguma forma, os quais vejo relevância para serem mencionados e resenhados. A frequência de postagem ficará bem curta, mas sei que farei de coração e de um jeito saudável para mim.

O que quero passar com este texto é que todo mundo tem seus limites, e você precisa respeitá-los. Se ler é um prazer para você, faça isso continuar sendo prazeroso. Não use a leitura como um remédio, pois ela pode se tornar parte do seu problema, como ocorreu comigo. Tudo bem não querer ler, tudo bem não finalizar um livro este mês. Está tudo bem!