A luz na escuridão | Resenha

30 de setembro de 2024 - Regiane Silva

Livro A luz na escuridão em uma estante com outros livros. Há uma bonequinha de pano e um ursinho de enfeite, ao lado do livro.

Livro: A luz na escuridão;

Autora: Sharon Cameron;

Editora: Alt;

Publicado em 2020;

Páginas: 447;

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Há quatro nazistas dormindo no quarto. Há treze judeus no sótão em cima de suas cabeças. Helena e eu estamos entre eles. Acho que todos nós estamos prestes a reinventar nossas noções de inferno. (p. 363)

Alguns livros são bem difíceis de ler. O conteúdo pesado nem é o grande problema, e sim saber que tudo aquilo realmente aconteceu.

A Luz na Escuridão é uma obra baseada na vida real de Stefania Podgórska, uma jovem polonesa que, durante a Segunda Guerra Mundial, escondeu 13 judeus em seu sótão, arriscando sua vida para protegê-los da perseguição nazista. Sharon Cameron revisita uma história comovente de coragem, sacrifício e esperança em meio à escuridão de um dos períodos mais sombrios da história da humanidade.

Este livro foi escrito baseado na autobiografia da Stefania, que a autora teve acesso para construir este romance.

A história se passa na Polônia, durante a ocupação nazista. Stefania, uma adolescente católica, trabalha na loja dos Diamant, uma família judia de Przemyśl, onde se torna amiga próxima de Izio Diamant, um dos filhos da família.

No início da guerra, a situação dos judeus na Polônia se agrava, culminando com a criação dos guetos (áreas urbanas isoladas onde os soldados alemães forçaram os judeus a viver sob condições extremamente precárias, uma espécie de bairro/prisão só para eles) e deportações em massa para campos de concentração. A guerra separa Stefania de seus pais, que moravam numa fazenda enquanto ela vivia na cidade com as irmãs, a quem ela também perdeu contato após um ataque à cidade, o que a fez viver com os Diamant. E logo ela é forçada a se separar dessa família, porque eles são enviados para o gueto.

Ela é uma menina vivendo sozinha numa cidade tomada pelos alemães, sem contato com a própria família, sem saber se estão vivos, tendo de sobreviver. Stefania começa a cuidar dos seus judeus, como ela gostava de os chamar, vendendo tudo que podia para comprar alimentos e levá-los até o gueto para eles. Ela se colocava em risco o tempo todo, mas era mais importante mantê-los vivos do que ficar a salvo em casa.

Ela e Izio são apaixonados um pelo outro, então há esse romance entre eles. Só que logo ela descobre que a maioria da família Diamant seria deportada para campos de trabalho (no caso, era dito a eles que iriam para fazendas e lugares para trabalhar, mas sabemos que não é exatamente isso que acontecia). Max, irmão de Izio, havia sido um dos escolhidos, mas Izio se oferece para ir no lugar dele, pois não queria que o irmão passasse por tudo aquilo. É aqui que teremos um desfecho horrível para Izio, o que vai atormentar a garota por toda a sua vida. Ela fica nessa vida de tentar se sustentar e ajudar a família Diamant, até receber a notícia do que aconteceu com Izio. Então, Stefi decidi ir até a fazenda da sua família ver se eles estavam bem. Visualizem este cenário: a cidade destruída, pessoas passando fome, soldados para todos os lados, e uma menina andando escondida, já que havia toques de recolher, até chegar a essa fazenda. Ela caminha por mais de 30 quilômetros. Ainda bem que ela foi até a fazenda, pois, ao chegar lá, encontrou a irmã de seis anos abandonada pelo vizinho, já que seus pais haviam sido levados para trabalharem para os alemães. A menina ficou ali para morrer.

Agora Stefania não tinha apenas a sua vida para cuidar, ela tinha os judeus e sua irmã pequena.

Max Diamant consegue escapar do gueto e encontra abrigo com Stefania. É nesse momento que ela toma a decisão que moldará o resto de sua vida: esconder Max e outros judeus em sua casa. Ela consegue um emprego que paga mal, arrisca sua vida várias vezes, arruma uma casa para morar e leva 13 judeus do gueto.

Houve um momento no gueto em que se tornou insustentável mantê-lo. Não havia alimento para todos, só uma pequena ração uma vez por dia. E os alemães resolveram enviar trens, enchê-los de judeus e, depois, os levarem para serem mortos. Isso quando não faziam uma “limpeza” no local, fuzilando todos.

Tem uma cena que é de dar desespero e que nos faz entender por que ela se arriscava tanto para ajudar aquelas pessoas. Havia um plano de como levar aqueles judeus para a casa nova. Em um deles, Stefi teria de passar pela praça e encontrar uma menina da idade da sua irmã. Ela era a judia que iria ficar com eles. Só que Stefi se atrasa no trabalho, então a menina fica andando pela praça morrendo de medo. Se um soldado a encontrasse, ela seria morta. Então, assim que Stefi finalmente aparece e consegue levar a garotinha, ela volta até o gueto para dar um sinal ao pai da menina, para ele saber que deu tudo certo. Ela espirra (este era o sinal), e o pai da garota, que estava esperando por aquilo o dia inteiro, se senta no chão e chora. Imagina a dor e a aflição desse homem ao longo do dia sem saber se a filha havia sobrevivido.

A partir daí, Stefania enfrenta a constante ameaça de ser descoberta pelos nazistas. Alguns soldados chegam a ocupar sua casa quando duas enfermeiras alemãs vão morar ali com ela (já que Stefi não teve escolha, eles pediram a casa, e ela não poderia recusar). A tensão atinge o ápice quando, em várias ocasiões, eles quase descobrem os judeus escondidos. Apesar da escrita ser leve e fluida, as páginas passavam rapidamente conforme lia, mas o livro é muito intenso. Ver a maldade do ser humano em ação é de partir o coração. O que essa menina passa, quase ninguém seria capaz de passar. Estava sozinha, resolvendo a vida dela e de outras pessoas em meio a uma guerra. Teve momentos em que ela passou dias sem ter o que comer. Para disfarçar a fome, Stefi fervia água e dava para a irmã como jantar.

O mundo é belo, mas as pessoas o tornam feio. (p. 26)

Apesar da fome, do medo e das condições precárias, Stefania e Helena conseguem manter os judeus em segurança durante mais de dois anos. A dinâmica emocional entre os personagens é intensa: Stefania se apaixona por Max, mas as circunstâncias da guerra tornam o romance difícil e cheio de incertezas. Ela havia amado muito Izio, e estava com medo de amar de novo e esse amor ser novamente tomado dela. A relação dos dois, de Max e Stefi, é bem bonita. A gratidão que ele tem por ela era maior que sua vontade de viver.

Você me deu minha vida, agora me deixe dedicá-la a você. (p. 437)

O vínculo entre Stefania e sua irmã Helena também é um ponto-chave, com a jovem se tornando sua maior aliada e companhia durante esse período. Essa garotinha merece o prêmio da criança mais corajosa que existe, com certeza.

O fim da guerra chega e, com ele, a libertação dos judeus escondidos. Stefania e Max finalmente têm a chance de viver o amor que nutriram em segredo durante o conflito. As notas da autora revelam que, mais tarde, eles se casaram e emigraram para os Estados Unidos. Ficamos sabendo que todos eles tiveram de mudar de nome, já que o antissemitismo continuou, e conseguiram viver suas vidas finalmente em paz.

O ato de Stefania de esconder 13 judeus em sua casa mostra um nível de coragem extraordinário, especialmente porque ela sabia que sua vida e a de sua irmã estavam em risco constante.

O livro explora a resiliência do espírito humano diante da adversidade. Apesar do medo, da fome e da morte, Stefania e os judeus escondidos mantiveram a esperança viva. Tenho que acrescentar aqui que esses judeus não eram fáceis, não. Deram muito trabalho para ela, e, por causa da teimosia deles, quase foram pegos várias vezes.

A obra explora as difíceis escolhas morais que as pessoas tiveram que fazer durante a guerra. Stefania poderia ter escolhido salvar apenas a si mesma e sua irmã, mas optou por proteger aqueles que estavam em perigo, arriscando sua própria vida.A Luz na Escuridão é uma poderosa história de coragem, amor e resistência. Sharon Cameron faz um trabalho notável ao retratar a história de Stefania Podgórska de maneira respeitosa e comovente, lembrando aos leitores que, mesmo nos tempos mais sombrios, a luz da compaixão humana pode brilhar intensamente. A escrita detalhada e sensível, com a tensão constante da ameaça alemã, faz com que o leitor se envolva profundamente com os personagens e suas lutas. Para quem se interessa por histórias de sobrevivência durante essa fase sombria da humanidade, este livro é uma leitura imperdível.

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Foto Regiane Silva Regiane Silva

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