A redoma de vidro — Resenha

5 de outubro de 2022 - Regiane Silva

Livro A redoma de vidro em uma estante com livros e dois enfeites de ursinho e bonequinha.

Livro: A redoma de vidro;

Autora: Sylvia Plath;

Editora: Biblioteca Azul;

A primeira publicação foi em 1963;

Páginas: 280;

Nota: ⭐⭐⭐⭐⭐

Sinopse: Esther Greenwood é uma jovem que sai do subúrbio de Boston para trabalhar em uma prestigiosa revista de moda em Nova York. O mundo parecia estar se abrindo para Esther, entre o trabalho na redação de uma revista feminina e uma intensa vida social. No entanto, um verão aparentemente promissor é o gatilho da crise que levaria a jovem do glamour da Madison Avenue a uma clínica psiquiátrica.

Assim como a protagonista, a autora foi uma estudante com um histórico exemplar que sofreu uma grave depressão. Muitas questões de Esther retratam as preocupações de uma geração pré-revolução sexual, em que as mulheres ainda precisavam escolher se priorizavam a profissão ou a família.

Livro aberto na página onde está a foto da autora.

Resenha:

Geralmente meu estado emocional se reflete em minhas leituras. Quando estou bem e feliz, leio livros de comédia romântica, fantasia ou cheios de hots. Porém, quando estou deprimida, minhas leituras são intensas, repletas de questões duvidosas, como os Darks Romances, ou livros cheios de dramas e que me fazem chorar. Foi assim que conheci Sylvia Plath.

Ler “A redoma de vidro” não foi difícil, pois Sylvia tem uma escrita tão gostosa e leve, a leitura simplesmente flui. Apesar de ser um livro lançado em 1963, é muito fácil de ler, de entender e de entrar naquele mundo em que alguns padrões estão sendo quebrados pelas mulheres. No entanto, há gatilhos.

Esther é uma garota divertida, sonhadora, apaixonada e cheia de questionamentos, algo à frente do seu tempo e considerado por alguns uma afronta. Enquanto eu pesquisava sobre o livro, encontrei várias comparações de Esther com a própria Sylvia, dizendo que é um romance autobiográfico. Realmente, ao iniciar a leitura de seus diários, vejo Esther em Sylvia, e Sylvia em Esther. São a mesma pessoa.

Para quem não entende como funciona a mente de uma pessoa com depressão, este livro é um manual perfeito. Nos primeiros capítulos, Esther conta todas as coisas que gosta de fazer: escrever, ler, sair para beber e dançar, conhecer pessoas, comer e tomar banho.

Deve haver um bocado de coisas que um banho quente não cura, mas não conheço muitas delas. Sempre que fico triste pensando que um dia vou morrer, ou perco o sono de tão nervosa, ou estou apaixonada por alguém que não verei por uma semana, me deixo sofrer até certo ponto e então digo: ‘vou tomar um banho quente’. (p. 27)

Quando Esther começa a ser consumida pela doença, vemos o contraste de alguém que era cheia de vida, para alguém que não quer sair da cama e não vê sentido em tomar banho mais.

Para a sociedade, Esther tem uma vida perfeita. Apesar de não ser rica, de a mãe ainda precisar trabalhar para se sustentar, Esther tem uma excelente bolsa na universidade, trabalha em uma revista de moda e tem o mundo aberto para realizar seus sonhos quando se formar.

Entretanto, gradualmente, ela vai se apagando, vai se consumindo pela escuridão. Os eventos que sucedem seu colapso não são tão grandiosos ou traumáticos a ponto de fazer uma pessoa desistir. Mas conseguimos sentir que o problema já estava enraizado dentro dela, e bastou a gota d’água para tudo transbordar.

Imagino que eu deveria estar entusiasmada como a maioria das outras garotas, mas eu não conseguia me comover com nada. (Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia.) (p. 9)

Ao perder um curso que queria muito fazer nas férias de verão, seu copo transbordou.

Aquele curso havia se estendido à minha frente durante todo o mês de junho, como uma ponte brilhante e segura sobre o abismo tedioso do verão. Agora eu via aquilo oscilar e dissolver, e um corpo vestindo uma blusa branca e saia verde mergulhava no precipício. (p. 129)

Em algum momento, ela chega à conclusão de que poderia fazer outro curso, fazer outras coisas, que havia uma solução para o problema, contudo, não há mais forças dentro dela para insistir, para continuar tentando.

É interessante estar dentro da mente de Esther. Apesar de receber toda a ajuda disponível naquela época, nada adiantava. Olhando de fora, podemos até julgar Esther pelos pensamentos maldosos ou como trata a mãe quando esta tenta ajudar a filha conforme pode. No entanto, a garota havia perdido aquilo que a maioria das pessoas tem: a vida. Não havia vida dentro de Esther. Quando a vida morre dentro de uma pessoa, nada nem ninguém é capaz de fazer a pessoa ver qualquer ponto de luz ao seu redor.

Isso fica nítido quando ela passa pela primeira sessão de eletroconvulsoterapia. Apesar de ficarmos sabendo que a maneira como ela passou pela experiência foi do modo errado, Esther não viu aquilo como uma ajuda para ficar bem, apenas como um castigo.

(…) e a cada clarão algo me agitava e moía, e eu achava que meus ossos se quebrariam e a seiva jorraria de mim como uma planta partida ao meio. Fiquei me perguntando o que é que eu tinha feito de tão terrível. (p. 161)

Esther fica tão mal que precisa ser internada em uma clínica psiquiátrica, onde veremos sua evolução com os tratamentos da época. De imediato, é difícil enxergar a melhora dela, mas alguns detalhes nos fazem ver que ela não está tão afundada na escuridão mais.

Tentei lembrar o motivo de já ter amado facas, mas minha mente escapuliu da armadilha do pensamento e alçou voo como um pássaro pelo ar. (p. 242)

A escrita de Sylvia é repleta de metáforas, analogias e muito poética. Isso trouxe tanta leveza à leitura, que era impossível parar de devorá-la.

Para alguns, este livro pode ser difícil de ler, mas é o melhor retrato de alguém que precisa de ajuda. É um livro que nos faz sentir empatia por aqueles que passam por essa situação.

Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim. (p. 266)

O final é totalmente aberto. Não sabemos o que aconteceu com Esther, mas gosto de imaginar que ela voltou a sonhar.

Contracapa do livro

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Foto Regiane Silva Regiane Silva

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